Netanyahu: a aposta final contra o programa nuclear iraniano

O chefe da agência nuclear da ONU alertou que o Irã possui urânio enriquecido suficiente para fabricar várias bombas

Repórter Jota Silva
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu embarcou na que ele descreve como a missão de sua vida

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu embarcou na que ele descreve como a missão de sua vida: neutralizar o programa nuclear do Irã. Após anos de alertas e discursos apocalípticos, Netanyahu lançou uma ofensiva militar sem precedentes contra o Irã, buscando desmantelar o que ele considera a “cabeça do polvo“. Esta ousada estratégia surge em um momento de fatores convergentes, incluindo o enfraquecimento de grupos militantes apoiados pelo Irã e o apoio do presidente dos EUA, Donald Trump.

O sucesso desta empreitada não é garantido, e seu desfecho pode não apenas definir o destino do governo de Netanyahu, mas também moldar seu legado na história de Israel.


O Histórico de Alertas de Netanyahu Sobre o Irã

Netanyahu tem alertado sobre a ameaça nuclear iraniana desde a década de 1990, antes mesmo de seu primeiro mandato como primeiro-ministro. Desde 2009, ele tem consistentemente retratado a perspectiva de um Irã com armas nucleares como uma ameaça existencial para Israel e para o mundo.

Em momentos notáveis, ele exibiu uma charge na Assembleia da ONU em 2012 para ilustrar o avanço iraniano em direção à bomba. Três anos depois, proferiu um discurso controverso no Congresso dos EUA, criticando o acordo nuclear emergente do então presidente Barack Obama com o Irã. Embora não tenha impedido o acordo, o discurso agradou os republicanos e pavimentou o caminho para a saída de Trump do acordo posteriormente.

Frequentemente, Netanyahu compara a liderança teocrática do Irã aos nazistas, gerando críticas de estudiosos do Holocausto. Ele reiterou essa comparação recentemente ao anunciar os últimos ataques: “Oitenta anos atrás, o povo judeu foi vítima de um Holocausto perpetrado pelo regime nazista. Hoje, o Estado judeu se recusa a ser vítima de um Holocausto nuclear perpetrado pelo regime iraniano.”

O Irã afirma que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos. No entanto, o enriquecimento de urânio a níveis próximos aos de armas e a falta de cooperação com inspetores internacionais têm levantado sérias preocupações. O chefe da agência nuclear da ONU alertou que o Irã possui urânio enriquecido suficiente para fabricar várias bombas, e a agência censurou o Irã recentemente por não cumprir suas obrigações de não proliferação.


Por Que Atacar o Irã Agora?

Netanyahu ameaçou o Irã por anos, mas nunca agiu devido à oposição interna, preocupações com a viabilidade da operação e objeções de presidentes dos EUA. Contudo, nos últimos dois anos, a situação mudou, e Netanyahu acredita que agora tem a oportunidade de redefinir a região.

Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza, Israel tem sistematicamente enfraquecido a rede de aliados iranianos. A guerra em Gaza devastou o Hamas, embora com um custo humano devastador. Israel também infligiu danos significativos aos militantes do Hezbollah no Líbano e contribuiu para a queda do presidente sírio Bashar al-Assad, outro aliado do Irã. Além disso, em um breve confronto com o Irã no ano passado, Israel desabilitou grande parte dos sistemas de defesa aérea iranianos.

Com o “Eixo de Resistência” do Irã fragilizado e sua incapacidade de se defender da força aérea israelense, poucos obstáculos impediam Israel de agir esta semana.

A peça final do quebra-cabeça foi fornecida por Donald Trump. Após reiniciar negociações nucleares com o Irã, Trump frustrou-se com a falta de progresso. Ao ser informado dos planos israelenses, o presidente dos EUA pareceu oferecer pouca resistência, criando uma rara janela de oportunidade para Israel.


O Sucesso é Garantido Para Netanyahu?

É muito cedo para prever o desfecho. A operação israelense teve um início aparentemente tranquilo, com dezenas de alvos atingidos e a morte de altos funcionários militares iranianos. No entanto, o alcance dos danos infligidos ao programa nuclear iraniano ainda não é claro.

Por enquanto, Netanyahu, figura controversa, parece desfrutar de uma onda de apoio em Israel. Até mesmo a oposição política, que tentou derrubá-lo no parlamento, manifestou apoio à operação contra o Irã.

Contudo, a situação pode mudar rapidamente. Após um apoio inicial à guerra contra o Hamas, Israel está profundamente dividido. Com os combates se estendendo por mais de 20 meses, muitos acreditam que Netanyahu prolongou o conflito para permanecer no poder.

Da mesma forma, o apoio público à operação iraniana pode evaporar rapidamente se os ataques de mísseis iranianos causarem muitas baixas ou perturbarem a vida em Israel por um longo período. Um revés no campo de batalha, como a captura de um piloto de caça israelense, também poderia reverter a sorte de Netanyahu. Além disso, as insinuações de Netanyahu sobre uma mudança de regime no Irã – uma tarefa complexa e árdua – podem prejudicar ainda mais sua posição.


Por Que o Sucesso é Tão Importante Para Netanyahu?

Com um mandato recorde, Netanyahu possui um legado complexo. Visto como um político astuto e um estadista por seus apoiadores, ele é igualmente detestado por seus críticos, que o veem como um populista cínico e divisivo.

É inegável que seu legado foi manchado pelos ataques de 7 de outubro, o dia mais mortal da história de Israel. Netanyahu agora enxerga nesta operação uma oportunidade de reescrever seu legado, aspirando a ser lembrado como o homem que salvou Israel da aniquilação nuclear, e não como o primeiro-ministro que presidiu seu momento mais sombrio.

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