Lula decide substituir Nísia Trindade, ministra da Saúde que inaugura UTI Pediátrica em Maringá nesta sexta-feira, 21

Em nota à imprensa mais tarde, o ministério disse que Nísia mantém sua agenda oficial

Repórter Jota Silva
Ministra da Saúde, Nísia Trindade

O presidente Lula (PT) comunicou a seus aliados que planeja substituir a ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante a reforma ministerial que está sendo discutida no governo. A atuação da ministra tem gerado insatisfação entre membros do Congresso, funcionários do Palácio do Planalto e até mesmo entre o próprio Lula, que expressou preocupações quanto à falta de uma identidade forte na área da saúde.

De acordo com informações da Folha de S.Paulo, Lula informou a interlocutores do setor político e da área da saúde que pretende fazer a troca. O nome mais cotado para assumir a posição é o do atual ministro Alexandre Padilha, que já liderou a pasta durante a administração de Dilma Rousseff (PT).

Aliados mencionam que o presidente não disfarça sua insatisfação com o desempenho de Nísia. Nos últimos dois anos, sua gestão foi marcada por diversas críticas, crises sanitárias e a pressão do centrão para aumentar o controle sobre o orçamento da pasta. No entanto, Lula chegou a defender publicamente a ministra, que assumiu o cargo com um perfil técnico.

No Palácio do Planalto, há uma avaliação de que, em um período de diminuição da popularidade do presidente, o Ministério da Saúde possui a oportunidade de apresentar e implantar políticas públicas que ganhem maior destaque, como o programa Mais Acesso a Especialistas.

Esse programa tem como objetivo diminuir as filas e aumentar o acesso da população a exames e consultas especializadas nas áreas de oncologia, cardiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia. Os auxiliares de Lula acreditam que, sob uma nova liderança, essa ação pode se tornar uma vitrine e um símbolo da administração petista.

Durante as discussões sobre possíveis substitutos para Nísia, Lula demonstrou uma preferência pessoal pelo nome do ex-ministro da Saúde Arthur Chioro. No entanto, conforme esses relatos, o presidente reconhece que deverá optar por Padilha por motivos políticos e pela boa relação do ministro com a equipe já presente na pasta.

Os assessores do presidente destacam a relevância de ter um nome com perfil político à frente do ministério, e isso seria um ponto positivo para o atual ministro da SRI (Secretaria de Relações Institucionais). Chioro, por sua vez, possui o respaldo do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e tem se empenhado em se integrar aos bastidores do governo.

Outro ponto a favor de Padilha é que, no momento, Chioro é visto como um gestor bem avaliado à frente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, e mantê-lo nessa posição seria uma escolha sensata.

Em uma entrevista ao jornal O Globo, Nísia expressou sua insatisfação, na tarde desta quinta-feira (20), sobre os que classificou como “rumores” envolvendo seu nome “desde o início do governo”. Ela afirmou não se sentir “intimidada com especulações” e mencionou ter se encontrado com Lula no dia anterior, sem receber indícios de que seria demitida. Nísia ainda ressaltou que existe uma “luta na comunicação”.

Agenda

Em nota à imprensa mais tarde, o ministério disse que Nísia mantém sua agenda oficial e defendeu a atuação da pasta. “A ministra da Saúde, Nísia Trindade, reforça que a atual gestão, sob o comando do presidente Lula, está cumprindo o compromisso de reestruturar o SUS e cuidar da saúde da população, com resultados concretos”, disse.

Nísia Trindade em Maringá no Paraná

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, cumprirá agenda em Maringá nesta sexta-feira, 21 de fevereiro.

PROGRAMAÇÃO:

– Às 10h, a ministra participa da inauguração da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Criança de Maringá. Com os 10 primeiros leitos, a UTI atenderá pacientes com idades entre 29 dias e 16 anos incompletos residentes em Maringá e municípios das regiões Noroeste e Norte do Paraná.

– Às 13h, a ministra visitará as obras do Parque Tecnológico Industrial da Saúde do Tecpar em Maringá. O complexo será responsável, futuramente, pela formulação, envase, embalagem e armazenamento de vacinas, consolidando a cidade como um polo farmacêutico e biotecnológico.

Nísia sai entra Padilha

Em 2024, Nísia chegou a se emocionar e deixar uma reunião ministerial amparada pela primeira-dama, Janja, após Lula ter cobrado a ministra a “falar grosso”. No mês seguinte, o petista fez um gesto à titular da Saúde dizendo que ela fala “com a alma e a consciência das pessoas”.

Caso a opção por Padilha se confirme para a Saúde, a reforma ministerial deverá contemplar uma mudança importante na chamada cozinha do Palácio do Planalto. Nesse cenário, o mais cotado para comandar a articulação política de Lula passa a ser o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (BA).

Wagner foi sondado para a vaga na semana passada. O senador baiano ponderou, segundo relatos que ele fez a aliados, que a maior fonte de preocupação do governo não é o Senado, mas a Câmara. Dessa forma, seria mais eficaz a nomeação de um deputado para a Secretaria de Relações Institucionais.

Um defensor do nome de Wagner diz, por sua vez, que sua escolha pode beneficiar o governo porque ele é um político “que põe a bola no chão”, tido como conciliador e de bom trânsito em diferentes segmentos. Além disso, é das poucas pessoas que têm liberdade para aconselhar o presidente da República com franqueza.

Nas conversas, Lula cogitou a hipótese de nomear a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), para a Secretaria de Relações Institucionais. Lula foi, porém, alertado para as dificuldades da relação dela com os congressistas.

Nesse cenário, surgiu a alternativa do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Ele tem a simpatia de dirigentes do centrão, sendo um dos petistas mais próximos de integrantes do grupo, inclusive do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).

O centrão se queixa de que a maior parte dos ministros do Palácio do Planalto é do PT e trabalha para emplacar um aliado na SRI -posto considerado estratégico na liberação das emendas parlamentares.

O grupo tem preferência pelo nome do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), parlamentar governista que é braço-direito do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e aliado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Apesar disso, interlocutores de Lula dizem que o trabalho na SRI exige uma relação próxima e de confiança com o presidente da República, com agendas diárias. Por isso, defendem que um parlamentar do PT seja alçado ao posto.

Guimarães se aproximou do núcleo duro de aliados de Motta no ano passado, assumindo a defesa, desde o início, do apoio do PT ao deputado paraibano na disputa. Além desse fator, pesa a favor do parlamentar petista o fato de que Lula reconhece o esforço que ele fez para aprovar matérias de interesse do Executivo nos últimos dois anos.

Auxiliares de Lula dizem que ele ainda tem dúvidas sobre a dimensão exata das mudanças que fará na Esplanada. Em fala à imprensa, na quarta-feira (19), o presidente despistou sobre quando começará a reforma ministerial e disse que, da mesma forma que convidou quem quis para integrar o governo, pode tirar quem quiser na hora que quiser.

Ainda assim, há uma expectativa entre aliados de Lula de possíveis anúncios a partir deste fim de semana, quando ocorre a festa de aniversário de 45 anos do PT, no Rio de Janeiro. A ideia é começar o remanejamento pelos petistas e nomes da cota pessoal de Lula.

Em meio à celebração do partido, é citada a possibilidade formalização do nome da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, como ministra da Secretaria-Geral da Presidência. A festa marcaria a despedida dela da presidência do partido.