Damasco, Síria — O exército israelense realizou um ataque aéreo contra o Ministério da Defesa e a sede do Estado-Maior do Governo de Transição sírio, localizados no centro de Damasco, nesta terça-feira (16). Autoridades israelenses afirmaram que a ação está diretamente ligada aos recentes episódios de violência contra a comunidade drusa na província de Sweida, no sul do país.
Confirmação e Justificativa de Israel
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Avichai Adrai, confirmou o ataque em nota oficial: “O exército israelense acaba de lançar um ataque à entrada do complexo do Estado-Maior do regime sírio em Damasco”. Ele explicou que a operação responde aos “desenvolvimentos relacionados com as ações contra os cidadãos drusos na Síria” e que as forças israelenses “atuam de acordo com as diretrizes da liderança política e continuam em alerta para enfrentar vários cenários”.
Tel Aviv Endurece o Discurso
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, criticou duramente o regime sírio liderado por Ahmed al-Sharaa, acusando-o de perseguir minorias. “Trata-se de um regime não eleito que tomou o poder pela força das armas”, disse Saar, condenando o que considera perseguições sistemáticas contra os drusos.
Saar questionou a passividade da comunidade internacional, perguntando: “Até quando o mundo vai continuar a assistir ao que se passa na Síria?”. Ele também reforçou os interesses estratégicos de Israel na região: “Manter a situação como está e garantir que o sul da Síria não representa uma ameaça para o Estado judaico”.
Feridos em Damasco e Reforço na Fronteira
A imprensa oficial síria confirmou o ataque, classificando-o como uma “agressão israelense”. O canal estatal Al-Ekhbariya informou que ao menos dois civis ficaram feridos no bombardeio, que atingiu uma das áreas mais fortificadas da capital.
Em paralelo, o porta-voz militar Avichai Adrai anunciou o reforço do contingente israelense na fronteira com a Síria, especialmente na zona da vedação de segurança nas Colinas de Golã. O objetivo é impedir que o sul da Síria se transforme em base para ameaças militares contra Israel.
Crise em Sweida e Alerta Internacional
Os bombardeios aéreos também atingiram alvos na província de Sweida, onde o conflito entre grupos drusos e beduínos tem se intensificado. A região, de maioria drusa, tem sido palco de confrontos armados, com relatos de dezenas de mortos e feridos nos últimos dias.
O ministro da Defesa de Israel, Yisrael Katz, enviou um recado direto ao governo sírio: “O regime sírio deve retirar-se e deixar em paz a comunidade drusa de Sweida”. Katz declarou que Israel não hesitará em aplicar sua política de contenção e proteção aos drusos: “Não abandonaremos os drusos na Síria e aplicaremos a política de desarmamento que foi aprovada”.
Travessia de Drusos e Tensão nas Colinas de Golã
Em um sinal de instabilidade, dezenas de drusos da cidade de Majdal Shams, localizada no setor ocupado pelas forças israelenses nas Colinas de Golã, atravessaram a vedação de segurança em direção ao território sírio. Essa movimentação aumenta a tensão na área, historicamente sensível e objeto de disputas territoriais entre os dois países. A travessia revela o envolvimento direto da comunidade drusa na crise e pressiona Israel a manter uma postura proativa na proteção desse grupo étnico-religioso.
Implicações Regionais e Possíveis Desdobramentos
A escalada militar entre Israel e Síria acende um novo alerta para a comunidade internacional. Com o envolvimento direto das forças israelenses em ataques dentro da capital síria e declarações duras contra o governo de Damasco, cresce o risco de um novo ciclo de confrontos na já instável região do Oriente Médio.
Analistas apontam que a postura israelense visa não apenas defender a comunidade drusa, mas também estabelecer linhas vermelhas claras em relação à presença de forças hostis no sul da Síria, incluindo milícias ligadas ao Irã e ao Hezbollah. Ao mesmo tempo, o governo sírio, enfraquecido por mais de uma década de guerra civil, pode ter dificuldades em responder a essas ações sem arriscar uma escalada de maiores proporções.
Israel ataca sul da Síria em meio a conflitos étnicos e tensão com novo governo
Aviões israelenses bombardearam a cidade de Sweida, no sul da Síria, nesta terça-feira, 15 de julho de 2025. A ofensiva militar ocorreu contra as tropas do governo sírio, que se deslocaram para a região após confrontos violentos entre drusos e beduínos, dois grupos étnicos que ocupam territórios no país.
As forças sírias, agora sob o comando do grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) – que governa desde a queda de Bashar al-Assad em dezembro de 2024 –, foram enviadas a Sweida na segunda-feira, 14, com o objetivo de restaurar a estabilidade após dois dias de confrontos que deixaram cerca de 100 mortos.
Escalada da Violência e Alvos Israelenses
A chegada das tropas sírias desencadeou novos confrontos, desta vez entre os militares e as milícias drusas. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR), um grupo de monitoramento de guerra do Reino Unido, 21 pessoas foram mortas pelas forças do governo, incluindo 12 homens em uma casa de repouso. Há também relatos de roubos e incêndios a casas por parte dos militares.
Em resposta, Israel bombardeou comboios militares que se dirigiam ou estavam estacionados na região. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Israel Katz, emitiram um comunicado conjunto, afirmando: “Estamos agindo para impedir que o regime sírio os prejudique (os drusos) e para garantir a desmilitarização da área adjacente à nossa fronteira com a Síria.”
Apoio aos Drusos e Acusações Sírias
A justificativa de Israel para apoiar os drusos – uma minoria étnico-religiosa com comunidades em Israel, Líbano e Síria – segue uma aproximação permitida pelo governo israelense entre as comunidades drusas dos dois países desde a queda de Assad. Desde que o HTS formou o governo sírio, os drusos do sul do país mantêm uma autonomia que pode ser ameaçada com o envio das tropas.
O Ministério das Relações Exteriores da Síria, por sua vez, declarou que os ataques israelenses mataram “vários civis inocentes”, bem como soldados, classificando-os como “um exemplo repreensível de agressão contínua e interferência externa” nos assuntos internos da Síria. A pasta acrescentou que o Estado sírio está comprometido em proteger os drusos, “que formam parte integrante da identidade nacional e do tecido social sírio unido”.
Cessar-Fogo Anunciado, Conflitos Persistem
Os ataques de Israel ocorreram mesmo com o governo sírio anunciando um cessar-fogo para os combates no sul do país. Apesar do anúncio, relatos de conflito na região persistiram ao longo desta terça-feira. Um morador de Sweida, que preferiu não se identificar, relatou à AFP: “Continuamos ouvindo tiros. Um dos meus amigos da zona oeste da cidade me contou que indivíduos desconhecidos entraram em sua casa, expulsaram seus familiares após confiscarem seus celulares e incendiaram a casa.”
Líderes religiosos drusos na Síria inicialmente pediram que as facções armadas drusas em combate com as tropas sírias entregassem as armas e cooperassem com as autoridades. Horas depois, no entanto, um dos líderes voltou atrás, acusando o governo de quebrar o acordo e atacar civis desarmados.
Desafios do Novo Governo Sírio
O presidente interino sírio, Ahmad al-Sharaa, emitiu um comunicado instruindo as autoridades a “tomar medidas legais imediatas contra qualquer pessoa que comprovadamente tenha cometido uma transgressão ou abuso, independentemente de sua patente ou posição”.
A violência em Sweida ilustra os desafios enfrentados pelo governo interino de Al-Sharaa desde que ele assumiu o poder após a derrubada de Assad, que encerrou 14 anos de guerra. O HTS, liderado por Al-Sharaa, ocupava as áreas do norte da Síria e obteve o controle de Damasco e das áreas centrais em dezembro. No entanto, o controle sobre o sul, onde os drusos estão, é mais frágil.
Os beduínos, que entraram em combate com os drusos, são um grupo árabe nômade com maior identificação com o HTS, por também seguirem a vertente sunita do Islã.
Israel tem adotado uma postura agressiva em relação aos novos líderes sírios desde que assumiram o poder. O Exército israelense já havia bombardeado infraestruturas militares no sul da Síria logo após a formação do novo governo e avançou com tropas em uma zona-tampão patrulhada pela ONU no território sírio, sob o pretexto de impedir que o HTS se aproxime da fronteira.