Santana do Cariri (CE) – Após quase três décadas longe de casa, uma peça fundamental do patrimônio paleontológico brasileiro foi finalmente repatriada. O fóssil holótipo de $Mesoproctus\ rowlandi$, popularmente conhecido como escorpião-vinagre, foi apresentado nesta segunda-feira (13) na sede do GeoPark Araripe, em Santana do Cariri, Ceará. O valioso exemplar ficará em exposição permanente no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, localizado na área do parque.
O espécime, originário da Bacia do Araripe, foi levado ilegalmente para a Irlanda do Norte em 1996, onde permaneceu em estudo e exibição no Museu de Ulster. Sua devolução oficial ocorreu em setembro, durante a 11ª Conferência Internacional de Geoparques Globais da UNESCO, no Chile.
Vitória da Ciência e da Diplomacia
A repatriação é o resultado de um esforço conjunto e interministerial, envolvendo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério das Relações Exteriores, o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens e o apoio da Procuradoria-Geral da República.
“Nosso museu está se transformando num museu científico, num museu de pesquisa, um dos melhores laboratórios que nós temos no Brasil,” afirmou Inácio Arruda, secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, classificando o retorno como uma “grande vitória brasileira.”
Alysson Pinheiro, diretor do museu da Universidade Regional do Cariri (Urca), reforçou o significado da conquista: “A chegada do escorpião-vinagre reforça a atuação do governo brasileiro, que não tem medido esforços para reaver o patrimônio fossilífero do Brasil. Essa é mais uma vitória do País, uma vitória do povo brasileiro, já que esse material é um patrimônio da União, um bem do povo brasileiro.”
Holótipo de 115 Milhões de Anos
O $Mesoproctus\ rowlandi$ viveu há cerca de 115 milhões de anos, durante o período Cretáceo, na região da Bacia do Araripe, no Nordeste do Brasil. Sua importância científica é inestimável por ser um holótipo, o exemplar original usado pelos cientistas para descrever e nomear a espécie. Além disso, ele integra um grupo raro de aracnídeos com apenas 12 espécies fósseis conhecidas.
Apesar do nome assustador e da semelhança com escorpiões, o $Mesoproctus\ rowlandi$ é, na verdade, um tipo de aracnídeo inofensivo para humanos. Com cerca de 15 centímetros de comprimento e uma cauda em formato de chicote, sua defesa não é o veneno, mas sim uma substância liberada quando ameaçado: o ácido acético, que exala um cheiro característico de vinagre.