Jota Silva, repórter do Saiba Já News — A imposição de sanções e taxações por Donald Trump não costuma ser um ato único e total, mas sim um processo gradual, “nem a Rússia tem 100% dos seus produtos sancionados de uma só vez” é um ponto crucial para entender essa dinâmica. A abordagem de Trump é de manter uma margem para futuras sanções.
Isso lhe permite escalar a pressão sobre um país quando ele não cumpre medidas ou acordos estabelecidos. Ter uma gama de produtos ou setores que ainda não foram sancionados dá a ele flexibilidade e poder de barganha em negociações futuras.
“Assim também será com o Brasil” caso haja desacordos, a mesma estratégia de aumento progressivo das sanções poderia ser aplicada para exercer pressão sobre o governo brasileiro.
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Vou explicar detalhadamente
A política de sanções internacionais tem se tornado uma ferramenta central na estratégia de política externa de diversas nações, especialmente sob a administração de Donald Trump. Longe de ser um ato isolado e totalizante, a imposição de sanções por Trump revela uma abordagem calculada e progressiva, assemelhando-se a um complexo jogo de pressão e barganha.
Um dos aspectos mais notáveis dessa estratégia é a relutância em sancionar a totalidade dos produtos de um país de uma só vez. Como pertinentemente observado, mesmo uma potência como a Rússia não enfrentou um bloqueio econômico imediato e abrangente. Essa cautela estratégica reside na preservação da capacidade de escalar a pressão. Ao manter setores e produtos não sancionados, a administração Trump garante a possibilidade de impor novas medidas caso o país alvo descumpra acordos, ignore exigências ou adote condutas consideradas inadequadas.
Essa abordagem gradual transforma as sanções em um instrumento dinâmico. A cada nova transgressão percebida, novas camadas de restrições ou taxas podem ser adicionadas, intensificando o impacto econômico e político sobre a nação visada. Essa tática não apenas pune o comportamento indesejado, mas também serve como um constante lembrete das potenciais consequências futuras, incentivando a conformidade com as demandas americanas.
A analogia com um “jogo” é particularmente perspicaz. Cada sanção imposta é um movimento estratégico, calculado para obter uma resposta específica do adversário. A posse de “produtos para ir sancionando” confere ao jogador (neste caso, os Estados Unidos) a capacidade de manter a pressão de forma contínua, ditando o ritmo e a intensidade do confronto.
Diante desse cenário, a reflexão sobre as implicações para o Brasil torna-se inevitável. Em um contexto global cada vez mais polarizado e com tensões comerciais latentes, a possibilidade de o Brasil vir a ser alvo dessa mesma estratégia de sanções e taxações progressivas não pode ser descartada. Caso os interesses e as políticas brasileiras divirjam significativamente das expectativas americanas, a experiência de outros países sugere que um caminho de pressão gradual, através da imposição seletiva de sanções, poderia ser adotado.
Portanto, compreender a lógica por trás da estratégia de sanções de Trump é crucial para analisar e antecipar os desafios e as oportunidades na política externa brasileira. A cautela e a manutenção de “cartas na manga” na imposição de sanções revelam uma visão de longo prazo, onde a pressão constante e a possibilidade de escalada se tornam ferramentas poderosas na busca por objetivos geopolíticos e econômicos. O Brasil, assim como outras nações, precisa estar atento a esse tabuleiro global, onde cada movimento pode ter implicações significativas para o seu futuro.