Demência: Como Desejos por Certos Alimentos Podem Ser um Sinal de Alerta

Repórter Jota Silva
Demência: Como Desejos por Certos Alimentos Podem Ser um Sinal de Alerta

A demência é um termo abrangente que descreve um declínio na função mental grave o suficiente para interferir na vida diária. Embora seja mais conhecida por afetar a memória, ela também pode se manifestar de formas surpreendentes, incluindo mudanças nos hábitos alimentares e nos desejos por comida. Para muitos, alterações no paladar e na preferência por certos alimentos podem ser um dos primeiros sinais de demência, muitas vezes passados despercebidos.


As Mudanças Inesperadas no Paladar e na Alimentação


A relação entre demência e alterações alimentares é complexa e pode ocorrer por diversas razões. O cérebro, especialmente as áreas que controlam o paladar, o olfato e o julgamento, pode ser afetado pela doença. Isso pode levar a:

  • Desejo Intenso por Alimentos Doces: Uma das alterações mais frequentemente relatadas é um aumento súbito e incontrolável pelo doce. Pessoas que antes tinham uma dieta equilibrada podem começar a preferir doces, bolos, chocolates e refrigerantes em excesso. Isso pode ser explicado por danos nas áreas cerebrais que regulam o apetite e a inibição, fazendo com que o desejo por açúcar se torne mais proeminente. Além disso, o açúcar pode oferecer um “recompensa” imediata ao cérebro, tornando-se mais procurado à medida que outras fontes de prazer ou satisfação diminuem.
  • Preferência por Alimentos Salgados e Processados: Da mesma forma, alguns indivíduos podem desenvolver um desejo acentuado por alimentos salgados, frituras ou produtos altamente processados. Esses alimentos são frequentemente ricos em sabores intensos e texturas específicas, que podem ser mais facilmente percebidos ou mais “satisfatórios” para um paladar que está mudando.
  • Aversão a Certos Alimentos ou Grupos Alimentares: Em contraste, pode haver uma aversão repentina a alimentos que antes eram apreciados. Carnes, vegetais específicos ou até mesmo o café podem se tornar desagradáveis. Essa mudança pode estar ligada a alterações no olfato (que afeta diretamente o paladar), dificuldades de mastigação ou deglutição, ou simplesmente uma alteração nas preferências devido a danos cerebrais.
  • Comer em Excesso ou de Forma Desordenada: Em alguns casos, a pessoa pode começar a comer grandes quantidades de comida, mesmo sem fome, ou esquecer que já comeu. Isso se deve a falhas no reconhecimento da saciedade e no controle impulsivo, que são funções do cérebro.

Por Que Essas Mudanças Ocorrem?


As mudanças no apetite e nos desejos alimentares na demência podem ser atribuídas a:

  • Danos Cerebrais: Áreas do cérebro responsáveis pelo paladar, olfato, regulação do apetite e controle dos impulsos podem ser afetadas pela demência. Por exemplo, na demência frontotemporal, é comum observar alterações drásticas no comportamento alimentar.
  • Disfunção dos Neurotransmissores: Alterações nos níveis de neurotransmissores (substâncias químicas cerebrais que regulam o humor, o apetite e o prazer) podem levar a desejos específicos.
  • Necessidade de Estímulo: À medida que a cognição diminui, o cérebro pode buscar estímulos mais fortes, e alimentos com sabores muito doces ou salgados oferecem essa intensidade.
  • Esquecimento ou Confusão: A dificuldade em lembrar-se de ter comido ou de seguir rotinas alimentares pode levar a padrões de alimentação irregulares ou excessivos.

Quando Procurar Ajuda Médica?


É importante ressaltar que nem toda mudança nos hábitos alimentares indica demência. O estresse, o uso de medicamentos ou outras condições de saúde também podem influenciar o apetite. No entanto, se as mudanças nos desejos alimentares forem:

  • Súbitas e drásticas: Sem uma explicação clara.
  • Persistentes: Durando por semanas ou meses.
  • Acompanhadas por outros sinais de demência: Como perda de memória, dificuldade de comunicação, desorientação, alterações de humor ou comportamento.

Nesses casos, é fundamental procurar um médico para uma avaliação. Um diagnóstico precoce da demência pode ajudar a planejar o tratamento, gerenciar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores.


Como Lidar com as Mudanças Alimentares na Demência?


Para cuidadores e familiares, lidar com essas mudanças pode ser desafiador. Algumas estratégias incluem:

  • Oferecer opções saudáveis: Tentar substituir doces e salgados por alternativas mais nutritivas quando possível.
  • Manter a hidratação: Oferecer água regularmente, pois a sede pode ser confundida com fome.
  • Dividir as refeições: Oferecer porções menores com mais frequência para evitar excessos ou esquecimentos.
  • Buscar orientação profissional: Um nutricionista pode oferecer um plano alimentar adequado, e um médico pode ajudar a gerenciar os sintomas gerais da demência.

Estar atento a essas alterações nos desejos por alimentos pode ser um passo importante para identificar precocidade a demência e buscar o suporte necessário.