A incoerência de Cris Lauer: de “pedir penico” na base aliada a crítica opositora

Repórter Jota Silva
Ex-vereadora Cris Lauer

A política, muitas vezes, é feita nos bastidores, mas quando esses bastidores vêm à tona, a coerência do discurso é o primeiro elemento a ser questionado. É o que acontece no caso da ex-vereadora Cris Lauer, cassada pela Câmara de Maringá por improbidade administrativa, em uma votação que beirou a unanimidade (20 votos a 2).

A própria ex-vereadora, em manifestação após a cassação, revelou um movimento político que expôs uma fragilidade estratégica em sua conduta. Segundo seu relato, ela procurou o grupo político dos Barros em busca de apoio para evitar a cassação, oferecendo-se para atuar como base aliada e garantir votos em projetos de interesse do grupo.

Este é o cerne da contradição que atinge a credibilidade de sua nova postura pública. Se a cassação ocorreu por uma falha de conduta (improbidade), atestada por uma votação esmagadora no Legislativo, a tentativa de buscar apoio político para salvar o mandato evidencia que a preocupação não era com o princípio ético, mas com a manutenção do poder. Se, em um momento crucial para a manutenção de seu mandato, a disposição era de alinhar-se ao grupo criticado, trocando o discurso de oposição por sobrevivência política, o que muda agora?

O que a ex-vereadora fez, na prática, foi buscar um salvo-conduto político – o famoso e popular “pedir penico” – a um grupo que hoje ela critica veementemente. A maior incoerência está no fato de que, após o pedido negado, ela volta-se para criticar os vereadores que, hoje, fazem exatamente o papel que ela se propôs a fazer: apoiar a gestão municipal em busca da melhor qualidade de vida para o município.

A postura atual levanta a dúvida se a crítica é ideológica ou puramente reativa, movida por mágoa e rancor da rejeição. Essa motivação, aliás, ecoa um comportamento que parece se tornar recorrente em parte do Partido Novo, como visto nas ações do seu ex-deputado líder, Homero Marchese, que também não conseguiu a reeleição. A crítica, quando é percebida como um desabafo pessoal de retaliação pela perda de poder, e não como uma oposição programática, enfraquece o propósito original do partido.

Em comunicação política, a tentativa frustrada de costurar um acordo de base, seguida pela adoção de uma postura de oposição ferrenha, tem um custo alto: a perda de peso da crítica. O eleitor e o observador político podem questionar se a oposição atual é motivada por princípios ou pela frustração do acordo negado. A crítica ao que é a “base” torna-se inconsistente quando há a exposição de que houve, sim, a disposição pessoal de integrar essa mesma base.

No final, a revelação do pedido de apoio negado não só sela o fato da cassação, mas também fragiliza a narrativa de ‘perseguição política’. A lição é clara: a disposição em negociar um princípio em troca de poder compromete a coerência, e esse é um erro que a área da comunicação não perdoa.

Compartilhe este artigo