Crise do Café: com inflação de 70% brasileiro abandona marcas e opta por opção mais barata

Repórter Jota Silva
Crise do Café: com inflação de 70% brasileiros abandonam marcas e opta por opção mais barata

O café, uma paixão nacional consumida por 98% da população brasileira, está passando por uma significativa transformação nos padrões de consumo, impulsionada principalmente pela alta expressiva de preços.

É o que revela a pesquisa Café – Hábitos e Preferências do Consumidor (2019–2025), encomendada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e realizada pelo Instituto Axxus, em parceria com o IAC e o NEIT da UNICAMP.

“Mesmo em um cenário de alta expressiva nos preços, o café segue presente no cotidiano dos brasileiros, mas de forma mais moderada e seletiva. O consumidor não abre mão da bebida, mas está adaptando seus hábitos ao novo contexto econômico”, comenta Sérgio Parreiras Pereira, pesquisador do IAC e coautor do estudo.

O Preço Redefine o Consumo

O principal motor das mudanças é o encarecimento da bebida, que, nos últimos dois anos, figurou entre os alimentos que mais subiram no IPCA, com altas superiores a 70% (IBGE e ABIC).

O resultado desse impacto é claro:

  • Troca por Preço: Quase quatro em cada dez consumidores (39%) afirmaram optar pela opção mais barata no supermercado, mais que o dobro de 2023 (16%). A fidelidade às marcas cede lugar à busca pelo menor valor.
  • Queda na Frequência: A taxa de consumidores que reduziram a ingestão de café em 2025 chegou a 24%, a maior da série histórica do estudo, que acompanha o período de 2019 a 2025.
  • Menos Xícaras Diárias: O grupo que consome mais de seis xícaras de café por dia caiu de 29% (em 2023) para 26% em 2025. Em contrapartida, o grupo que consome apenas até duas xícaras segue crescendo, atingindo 14% dos entrevistados (contra 8% em 2019).

Cafeterias Perdem Espaço e Canais de Compra Mudam

O impacto do preço também se reflete no consumo fora de casa. A frequência em cafeterias caiu de 51% em 2023 para 39% em 2025. O levantamento aponta que os principais motivos para a queda são preços elevados, mau atendimento e qualidade inconsistente, fazendo com que preparar o café em casa se torne a alternativa mais viável.

A pressão econômica influencia também onde o produto é comprado:

  • Atacarejos em Alta: Os atacarejos aumentaram sua participação nas compras de café de 24,6% (2023) para 28,2% (2025), enquanto pequenos varejistas e cafeterias perderam espaço.
  • YouTube como Guia: No ambiente digital, o YouTube desponta como principal fonte de informação sobre café para 13,2% dos consumidores, superando redes sociais e sites especializados.

“Os resultados mostram uma transformação nos hábitos de consumo. Porém, o brasileiro continua amando e comprando café. Nosso papel é acompanhar de perto essas mudanças, e apoiar o mercado para que o café de qualidade continue acessível a todos”, afirma Mônica Pinto, Gerente de Marketing da ABIC.

Apesar das mudanças, a pesquisa confirma que o café ainda é um dos símbolos culturais mais fortes do país, com o consumo matinal “ao acordar” seguindo praticamente universal, e o selo de qualidade da ABIC reconhecido por 87% dos entrevistados.

A pesquisa ouviu 4.200 pessoas em todas as regiões do país em setembro de 2025, com rigor metodológico e nível de confiança de 99%, para compreender a evolução dos hábitos em diferentes cenários econômicos e sociais.

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