O Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) iniciou, na última terça-feira (15/7), uma investigação comercial contra o Brasil, com base na Seção 301 da Lei Comercial dos EUA. O documento detalha supostas “práticas desleais” que, surpreendentemente, citam a Rua 25 de Março, tradicional centro de comércio popular em São Paulo, e o sistema de pagamentos Pix.


O Que Está em Jogo?

A investigação ocorre menos de uma semana após o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciar a taxação de 50% sobre produtos brasileiros. O USTR alega que o Brasil tem mantido “práticas comerciais desleais” que restringem o acesso de exportadores americanos ao mercado brasileiro, citando, inclusive, disputas judiciais recentes entre o Brasil e plataformas digitais americanas.

O USTR afirma que a aplicação da Seção 301 contra o Brasil é um pedido de Trump. Além de vincular a taxação à ação judicial que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta, Trump também alegou um déficit comercial para os EUA na balança comercial entre os dois países.


As Acusações dos EUA

O documento do USTR lista uma série de pontos sob investigação:

  • Comércio Digital e Serviços de Pagamento Eletrônico (Pix): Os EUA alegam que o Brasil pode estar prejudicando a competitividade de empresas americanas nesses setores ao retaliá-las por não censurarem o discurso político ou ao restringir sua capacidade de fornecer serviços no país. O Pix é citado por “parecer se engajar em uma série de práticas desleais”, não se limitando a “favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”.
  • Pirataria na Rua 25 de Março: A famosa rua no centro de São Paulo é mencionada como um local de “distribuição, venda e uso generalizados de produtos falsificados, consoles de jogos modificados, dispositivos de streaming ilícito e outros dispositivos de burla”. O USTR alega que a “falha em abordar eficazmente a pirataria de conteúdo protegido por direitos autorais continua sendo uma barreira significativa para a adoção de canais legítimos de distribuição de conteúdo”.
  • Tarifas Injustas e Preferenciais: O Brasil é acusado de conceder tarifas mais baixas a exportações de certos parceiros comerciais globalmente competitivos, prejudicando as exportações dos EUA.
  • Fiscalização Anticorrupção: A investigação levanta preocupações sobre a suposta falha do Brasil em fiscalizar medidas anticorrupção e de transparência.
  • Proteção da Propriedade Intelectual: Os EUA alegam que o Brasil nega proteção e aplicação adequadas e eficazes dos direitos de propriedade intelectual.
  • Etanol: O USTR critica o Brasil por ter abandonado o tratamento isento de impostos para o etanol dos EUA, aplicando agora uma tarifa substancialmente mais alta.
  • Desmatamento Ilegal: O documento aponta que o Brasil “parece não estar conseguindo aplicar efetivamente as leis e regulamentações destinadas a impedir o desmatamento ilegal”, o que prejudicaria a competitividade dos produtores americanos de madeira e produtos agrícolas.

Consequências e Reação Brasileira

A Seção 301 faz parte da Lei Comercial dos EUA de 1974 e é usada para responder ao que o governo americano classifica como “práticas injustificáveis, irracionais ou discriminatórias de governos estrangeiros“.

O representante comercial dos EUA, embaixador Jamieson Greer, afirmou que a investigação visa “responsabilizar o Brasil por suas práticas comerciais desleais e garantir que as empresas americanas sejam tratadas de forma justa“.

Em resposta às ameaças de taxação e à investigação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que o Brasil responderá por meio da Lei Brasileira de Reciprocidade Econômica, cujo decreto foi publicado recentemente.

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